Monday, February 28, 2005

O experimento

A colina, com pequenas e esparsas ervas e com calhaus por todo o lado, parecia o local ideal para a operação a que nos propunhamos.
Dalic olhava penetrantemente para o sopé da colina e fazia os seus primeiros cálculos enquanto eu pontapeava uma pedra que me pareceu não estar na conjunção ideal para que o projecto corresse como o tinhamos pensado.
Um rebanho de cabras apareceu na colina. Isto iria atrasar-nos, mas por outro lado rejubilamos, pois sabiamos o que iria acontecer às pequenas ervas que por ali cresciam.
Teriamos que esperar e para o efeito sentamo-nos com a cara ao sol. De tempos a tempos passava uma nuvem que deixava um rasto de sombra. Acompanhavamos esse rasto sem nos movermos do mesmo sitio, acompanhavamo-lo apenas com um rodar do pescoço.
As cabras lá acabaram com as poucas ervas e começaram a debandar colina abaixo.
Dalic levantou-se devagar e eu fiz o mesmo espreguiçando-me. Discutimos os planos mais uma vez, dé-mos uma olhadela pela colina para analisar todas as hipóteses. Quando tudo estava a postos surgiu um grande grupo de nuvens que projectou a sombra sobre nós. Resolvemos esperar que passassem e só depois, com tudo iluminado, nos resolveriamos a voltar ao projecto.
Decidimos deitarmos-nos numa pequena mancha de erva que a nossa presença tinha salvo da gula caprina. Acabamos por adormecer.
Dormimos até tarde. Tivemos portanto que adiar o projecto por um dia.
Voltamos à mesma colina onde já pastava o rebanho. Ao nos verem as cabras fugiram colina abaixo deixando o trabalho de despir a encosta completo. Perdemos ainda algum tempo a olhar para a colina e depois dessa inspecção tudo nos pareceu a postos.
Dalic pegou na laranja e pô-la a rolar colina abaixo. O fruto ia ganhando velocidade ao descer e, em algumas reentrânsias, chegou mesmo a saltar. Rapidamente tudo tinha acabado. Só tinhamos que descer a colina e observar os resultados.
De um momento para o outro uma das cabras que já se afastavam olhou para trás. Acompanhou o trajecto do objecto em estudo com a mesma atenção que nós e de seguida dirigiu-se aos pinotes até a laranja que abucanhou e comeu num ápice.
O projecto teve mais uma vez de ser adiado.

9 Comments:

Blogger SL said...

Bem...fiquei a pensar, desculpa, mas nada do que pensei consigo escrever...tá uma confusão tremenda. O texto como sempre é misteriosamente bem escrito.
Jinhos
ps-eu não sou nada misteriosa...

4:29 PM  
Blogger Luís Filipe C.T.Coutinho said...

Meu caro amigo, está excelente. E que tal criares uma personagem para o seguimento dessa história?

forte abraço

8:32 AM  
Blogger BlankPage said...

E que tal para a próxima esperarem que as cabras desapareçam...qualquer pessoa sabe que elas adoram laranjas! :D
Mas está excelente...Espero é que, quando a experiência correr finalmente bem, a descrevam numa revista científica que se dedique ao estudo do movimento e da velocidade dos objectos..

6:03 PM  
Blogger Viuva Negra said...

Olá! vim agradecer a visita ao Viúva Negra! Gostei do blog tem uma escrita interessante ....

Apareça mais vezes

2:38 PM  
Blogger Catarina Santiago Costa said...

Prefiro pensar que não há continuidade para este episódio - assim posso fazer um "fade out", que é o que de mais semelhante existe ao acto de adormecer.

11:15 AM  
Blogger Angel said...

Bonito texto
=) * * *

12:21 PM  
Blogger Non said...

Ah,as cabras, as cabras...

Esses animais misteriosos e livres. Têm só um defeito: comem tudo.

Muito bem esscrito.

:)

3:45 AM  
Blogger Quintas said...

bom projecto!

8:47 AM  
Blogger Ana João said...

gostei!!!
para ser sincera se a cabra não estivesse lá, mas se eu por acaso por lá passasse o resultado seria o mesmo: projecto adiado!!! lol

3:00 AM  

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