Monday, May 30, 2005

O Duplo

Em vez de amarrotar folhas e de as atirar para o chão ia amarrotando palavras e frases. Dispersas ao meu redor iam-se organizando em tecidos, orgãos, até que um dia ao olhar vi um duplo de mim mesmo.
As diferenças assustavam-me menos que as semelhanças.
O duplo esteve ali sem se mover até que um dia arrojei a palavra Respirar ao chão. A frase caiu, uma corrente de ar aproximo-a do ser. Respirava.
Depois começou a escrever. As suas palavras aproximavam-se de mim e o meu ser incorporava-as.
Acabei sendo o duplo do meu duplo.

8 Comments:

Blogger lique said...

Surreal e impecavelmente escrito, como é teu hábito. Beijos

11:37 AM  
Blogger Conceição Paulino said...

o surrealismo regressando. Bjs e ;)

10:32 AM  
Blogger BlankPage said...

Já tive essa sensação...ser o meu próprio duplo...arrojar palavras torna-se desnecessário nesses momentos...

5:48 AM  
Blogger polegar said...

obrigada pela visita :)
gostei do teu cantinho e das tuas palavras duplas.
vou voltar. beijinhos

7:27 AM  
Blogger maresia said...

respirar... é a palavra original.

11:18 AM  
Blogger maresia said...

e andré criou o duplo. e o duplo comeu andré!

11:20 AM  
Blogger Hrrada said...

Acabamos sempre por nos encontrar no reflexo do espelho... ;)

Gostei das palavras ;)

mua*

12:58 PM  
Blogger Eli said...

Devo-te dizer que consegui visualizar as tuas ideias. Às vezes, basta carregar numa tecla e apagar uma quadra ou até um poema inteiro, por isso, escrever nas folhas não se trata de apagar, ao amarrotar papel, mas sim, abandonar palavras que nunca deixarão de ser nossas. É como se se tratasse de um outro de nós, em nós. É a isso que às vezes chamamos de facetas...
Gosto das tuas ideias.

:)

6:18 PM  

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