Saturday, August 20, 2005

O experimento III

Não consegui perceber o sentido daquelas sucessivas visitas à colina. Em vez de uma laranja Dalic passou a levar todo um saco delas. O caminho das cabras, perpendicular ao nosso, encontravasse ali na colina com os nossos passos.
De quando a quando avistávamos o pastor que levantava o braço e lançava uma interjeição como cumprimento . Um dia levantou-se da pedra onde raramente o viamos e dirigiu-se a nós.
Pediu-nos um cigarro e lume e afastou-se a fumar.
Os dias estavam cinzentos e frios embora raramente chovesse mais do que uns poucos minutos por dia.
Chegado ao cimo da colina Dalic abria o saco e deixava as laranjas rolarem. Para as cabras era um festim. Com dificuldade apontava as trajectórias dos frutos sem perceber o sentido daquelas acções que pareciam estar tão afastadas do sentido inícial do experimento. Quando já conseguia distinguir os diferentes indivíduos do rebanho Dalic fez-me apontar também, para além da trajectória, qual das cabras tinha comido uma determinada laranja(que agora eram numeradas pacientemente por Dalic nas noites anteriores às saídas). Claro que não era possível saber com toda a certeza qual a laranja comida por cada cabra( as laranjas eram trinta, número que Dalic dizia ter sido escolhido não ao acaso mas após uma longa reflexão e horas em cálculos. Não havendo certeza eu não apontava nada.
Depois de 3 meses Dalic acrescentou um fruto aos trinta do saco. Este não numerado como os outros. Tinha então de descer a colina após os primeiros frutos terem sido devorados. Mantinha-me ali com o braço esticado com a laranja na mão. Das primeiras vez nenhum animal sequer se aproximava de mim mas após 9 dias aquela cabra que no início do experimento tinha comido a primeira laranja lançada aproximou-se de mim e depois de me olhar um pouco com os seus caprídeos olhos abucanhou o fruto.