Friday, July 28, 2006

Quarto de caçadores I

Tentei ser caçador de sombras numa noite quente de Verão.
A febre desceu e a névoa em redor da montanha desapareceu.
A Lua subiu no céu tentando roubar-me as sombras e sem o saber estava-me a dar todas as sombras que desejava.
Ao quarto chegavam-me os sons misturados do muezim e da sereia dum navio.
Vi uma sombra pequena e rápida no chão e o meu polegar na página que escrevia.
Duma mesquita subaquática as sereias entravam em mim.
A serra em que a montanha vivia ficara para trás. Na minha cabeça ainda estavam todos os altos e baixos que me acompanharam parte do caminho.

Thursday, July 13, 2006

O Jardim V

Decidi atravessar duma vez por todas o arvoredo. Do navio acenavam-me e tratavam-me por companheiro. Nunca entendi porque me haviam deixado ali. Ninguém me falou do assunto e eu também não o fiz.
A nave partiu e eu com ela. Vi o jardim desaparecer ao longe. A viagem continuava.

Tuesday, July 04, 2006

O Jardim IV

Uma mosca verde esmeralda poisada no lixo ao lado duma tampa de plástico que não chegou mesmo a entrar no balde.
Donde és? De onde vens? Para onde vais? Perguntas feitas tantas vezes que me esqueci das respostas.
O vento agita os ramos e muda a dosagem de sol sobre o solo.
Um gato desloca-se devagar entre os canteiros das flores tentando imitar os gestos das plantas. Os meus olhos acompanham-no.
E de repente o gato é calçada e começa a caçada que acaba onde acaba o sol.
Noutro dia o jardim regressa às páginas do que escrevo- este ou outro.