Sunday, December 17, 2006

Quarto de caçadores V

Havia uma coisa que na realidade ia mudando no meu dia-a-dia: “O livro do grande rio” que tinha comigo. Não me lembro onde o tinha comprado, mas tinha-o comigo. Quando o acabava de ler e o recomeçava já não era o mesmo, todos os poemas se tinham transformado, ainda que apenas em pequenos detalhes. Mas esses pequenos detalhes mudavam tudo. Parte essencial do diário era então a anotação das transformações dos poemas.

Enquanto que dentro daquele animal nada mudava nos poemas num dia estava sol, noutro chovia, num dia o rio corria, no outro estava seco, tudo mudava defacto nem que fosse porque num dia uma gota de chuva tivesse atingido o rosto do poeta e no outro um pássaro tivesse cantado por cima do poeta. Que diferença faria a gota de chuva ou o cantar da ave? Para mim era toda a diferença dum dia para o outro e essa diferença tinha que me ser o bastante.