Tuesday, February 06, 2007

Quarto de caçadores VII

Senti uma tensão no ar naquele primeiro dia fora. Na verdade a tensão talvez estivesse mais dentro de mim.
Depois do chá e do narguilê com sabor a maçã comecei a andar ao acaso na esperança de encontrar alguém com quem pudesse falar. Encontrei um grupo de turistas e pareceu-me que talvez neles houvesse uma possibilidade de diálogo, nem que fosse sobre o clima. Aproximei-me, falavam inglês o que me animou. Então comecei a falar só que não era inglês o que da minha boca saía. Não sei que língua era, mas turco também não seria. Olharam-me entre o assombro e o medo. Um senhor mais velho, armado em herói de ocasião veio na minha direcção e proferiu umas ameaças para me enxutar. Eu que só queria conversar um pouco encolhi os ombros e disse: “ No problem” , dei meia volta e continuei a minha caminhada. Era tanto o meu desejo de falar e a única coisa que me tinha saído era “No problem”! O que se passaria?
Dirigi-me para a margem do rio e sentei-me numa rocha. Senti que era um pescador. Lançava a linha ao rio e tentava apanhar o meu conhecimento afundado ao lado dos verdadeiros pescadores. As ideias apanhadas eram-me alheias. Eu era alheio a mim próprio enquanto tentava descobrir quem era. Lembrava-me da matemática, das funções que tendiam para o zero e das funções que tendiam para o infinito: sentia-me as duas em simultâneo.